Habitação para Todos – CDHU / IAB

Arquitetura | Urbanismo

Premiação | 1º Colocado

Ano | 2010

 

Arquitetura | 24 7 Arquitetura

Equipe | Giuliano Pelaio, Gustavo Tenca, Inácio Cardona, Erica Souza e Saulo Feliciano

Concurso

Felicidade, bem-estar e qualidade de vida. Esses foram alguns dos mais importantes conceitos que, juntamente com a concepção de um projeto bioclimático, formaram o nosso objetivo com esse projeto.

O maior desafio foi a busca por uma solução lógica e racional capaz de demonstrar que a qualidade de uma habitação não deve corresponder ao padrão econômico de uma determinada classe social, mas sim aos conhecimentos técnicos do seu momento histórico, rompendo um paradigma antigo e dominante de que as casas populares devem ser marcadas pela simplicidade de suas construções.

O objetivo consiste na idealização de uma casa compacta que possa dar mais liberdade aos moradores, com espaços livres dentro de suas dependências sem deixar de lado, é claro, a qualidade visual e volumétrica das mesmas. A preocupação com a fachada, com a identidade, a heterogeneidade e a descompactação do tradicional modelo da casa retangular, são pontos chaves na elaboração da nossa proposta.

A residência consiste em um programa reduzido, resolvido a partir de dois blocos lineares interligados por um terceiro bloco com funções distintas, sendo um módulo para os dormitórios e banheiro, outro para a área de serviços (cozinha e lavanderia) e um terceiro – de ligação – abriga a sala de refeições e a sala de estar.

O formato alongado e estreito visa garantir a iluminação e radiação direta total dos ambientes da casa, já que, de acordo com a inclinação do sol para a latitude das cidades do Estado de São Paulo, o formato quadrado ou retangular de certas dimensões impossibilitaria o alcance da luz em toda a sua extensão. O mesmo terreno, com as mesmas dimensões, foi pensado para abrigar a casa de dois e três dormitórios, prevendo, assim, a expansão de mais um quarto da menor habitação em caso de crescimento do número de integrantes da família.

Acreditamos que a qualidade dos espaços projetados influencia diretamente na qualidade de vida e bem-estar dos ocupantes e foi assim que procuramos trabalhar. Contamos com a opinião de moradores do atual sistema habitacional do CDHU e estivemos dispostos a ouvir e compreender a respeito das atuais carências, problemas, necessidades, preocupações e anseios, a fim de desenvolver um trabalho com a aprovação do usuário final.

Consideramos de grande valia algumas reuniões realizadas com os futuros moradores, já que estes, de certa forma, acabaram sendo responsáveis por alguns ajustes com relação ao funcionamento e funcionalidade dos espaços criados.

O objetivo dessa proposta, entre outros, é debater em cima de alguns conceitos padrões do modelo de desenvolvimento habitacional no país.

Entendemos e projetamos para romper com questões muito presentes no âmbito da habitação social atualmente:

1.Rápidas e de má qualidade :As unidades habitacionais ainda seriam de rápida construção, porém agora são sinônimo de qualidade de vida e felicidade. Espaços iluminados naturalmente,

com ventilação constante e pátios internos que visam aumentar a qualidade de vida dos moradores.

2.Homogeneidade: Privilegiamos entre outras coisas o aspecto e a riqueza visual. Cada casa poderá ter uma característica peculiar, através da escolha do tratamento de um elemento na

fachada que a diferenciará das demais.

3.Localização: Desejamos que não haja a criação de guetos em periferias e sim a ocupação de vazios urbanos centrais, compactando as cidades, visando multiculturas.

  1. Manutenção: Ninguém quer ter gastos com a manutenção de suas residências, por isso a escolha por materiais resistentes e de longa vida útil.
  2. Identidade Cultural: A relação da família com o imóvel é um fator predominante neste projeto.
  3. Segurança: Aspecto relevante resolvido neste projeto através de uma relação harmoniosa entre público x privado. Mesmo com a grade proposta no projeto, conseguimos manter uma relação

visual entre os espaços internos da casa e a rua, proporcionando a vigia permanente entre ambos os espaços.

  1. Projeto em desequilíbrio ambiental: Este projeto foi pensado a partir de um estudo climático da cidade de Ribeirão Preto, Atibaia e Santos, podendo ainda se adaptar a outros climas brasileiros.

As decisões projetuais foram tomadas a partir da análise do diagrama de umidade de Givoni, a fim de que tenhamos o conforto térmico necessário diminuindo também o consumo de energia das habitações.

O projeto permite aos moradores criarem os mais diferentes tipos de layouts em suas residências de acordo com as necessidades de cada família. E o mais importante é que mesmo tendo a mesma concepção, cada casa pode ter uma identidade visual diferente.

As fachadas podem ser facilmente modificadas, se alteradas as cores da caixa d’água e núcleo central e os elementos de fechamento frontal utilizados na frente da lavanderia. Esses itens são suficientes para se conseguir diferenciar uma casa da outra, mudando o aspecto de que todas as casas são exatamente iguais.

Modulação

A concepção inicial das residências partiu de uma modulação simples de 0,90m. Essa ideia surgiu a partir de um estudo sobre um denominador comum que pudesse atender tanto as necessidades da construção como as necessidades básicas de acessibilidade.

O módulo de 0,90m é perfeitamente usado quando se utiliza blocos estruturais da família 29, além disso a modulação de 0,90m permite ao cadeirante um deslocamento ideal dentro da residência.

Identidade e layouts

As residências foram pensadas de maneira a atender diversas estruturas familiares.

Dois blocos lineares com funções distintas interligados por um bloco central praticamente sem divisórias internas, permite aos moradores criarem layouts distintos de acordo com a necessidade de cada família.

Um mesmo terreno, possuindo uma mesma área quadrada é capaz de suportar duas diferentes maneiras de ocupação com dois ou três dormitórios.

A ideia de rompimento da monotonia causada pela repetição em grande parte do atual sistema de habitação de interesse social no Brasil, nos fez pensar na possibilidade de diferentes identidades que as casas poderiam alcançar.

Cada morador tem a possibilidade de se identificar com os seus imóveis através de uma simples escolha. As fachadas podem ser facilmente modificadas a partir da escolha por diversos materiais distintos de vedação de parte da fachada, assim como um trabalho paisagístico e com exploração de cores diversas para o volume das caixas d’água.

Esses itens são suficientes para atingir a quebra de um paradigma antigo e dominante de que as moradias sociais devem ser iguais.

Assim, acreditamos estreitar os laços particulares entre o morador e seu imóvel, a fim de que ele possa elevar o seu nível de qualidade de vida e satisfação pessoal.

Características Bioclimáticas

Sistemas de geração de calor

As residências se esquentam por si mesmas de duas maneiras para evitar seu resfriamento no inverno. 1. Devido ao seu alto isolamento térmico e dispondo a maior parte de sua superfície envidraçada a norte e leste. 2.Devido ao seu cuidadoso desenho bioclimático e orientação norte-sul os edifícios se esquentam por efeito de estufa e radiação solar direta.

Sistemas de geração de resfriamento

As residências se refrescam por si mesmas de três modos para evitar o seu aquecimento no verão: 1. Dispondo de superfícies envidraçadas ao sul e de proteções solares para a radiação solar direta e indireta. 2.Refrescando mediante a entrada de ventilação proveniente de espaços sombreados originados dos pátios gerados pela descompactação da casa. 3. Evacuando o ar quente ao exterior da residência por meio da convecção natural.

Sistemas de Acumulação (calor e resfriamento)

O calor gerado durante o dia no inverno (por efeito de estufa e radiação solar direta) se acumula nas lajes e nas paredes interiores com inércia térmica. Desta maneira, a casa permanece quente durante toda a noite sem necessidade de consumo energético. O resfriamento gerado durante a noite no verão (por ventilação natural e queda de temperatura) se acumula nas lajes e nas paredes internas. Deste modo a casa permanece fresca durante o dia sem consumo energético.

Inércia térmica do edifício

A inércia térmica de um edifício é um claro indicativo do seu comportamento térmico e ao mesmo tempo do seu grau de aproveitamento dos recursos naturais.

A inércia térmica praticamente só pode ser atingida através do aumento da massa dos edifícios. Quanto menor a massa = menor inércia térmica = pior comportamento térmico = menor conforto = maior consumo energético. Portanto, conseguimos um correto desenho bioclimático aumentando a massa das envolventes exteriores, instalando coberturas vegetais, utilizando um sistema construtivo auto-portante a base de blocos de concreto, prevendo laje em toda a extensão da casa.

Ventilação

A ventilação das residências se faz de forma continuada e natural através dos próprios muros exteriores, que permite uma ventilação adequada sem perdas energéticas. Janelas bem orientadas permitem uma contínua circulação dos ventos a fim de refrescar nos dias quentes do verão e nos dias de alta umidade relativa do ar. As aberturas foram pensadas de acordo com as inclinações do sol no verão e inverno para a cidade de Ribeirão Preto. De acordo com a latitude da cidade correspondente a 21,2°, temos:

Análise Sustentável

Otimização de recursos

O projeto se aproveita ao máximo dos recursos naturais tais como o sol (para esquentar a casa), o vento (para refrescar e regularizar a alta umidade) e a água da chuva (para rega do jardim e descarga do banheiro). A modularidade imposta pelo sistema construtivo é visto como um fator muito positivo, já que se eliminam os resíduos sólidos da construção e otimiza-se o tempo de construção. De fato, o simples e tradicional método construtivo permite que os próprios usuários possam construir mais da metade da residência.

Diminuição do consumo energético

Neste projeto a casa se aquece por efeito de estufa, a água se esquenta por meio de placas solares. A iluminação natural é predominante em todos os ambientes da casa, sendo necessária a utilização de energia elétrica somente quando não houver mais luz natural, e a ventilação é constante para refrescar nos meses quentes de verão. O principal objetivo de um desenho bioclimático é eliminar os dispositivos tecnológicos que proporcionam calor e resfriamento a um edifício.

Diminuição de resíduos e emissões

As únicas emissões da casa foram geradas pela obtenção dos materiais a serem empregados. O mesmo acontece com resíduos, já que o sistema construtivo e os materiais empregados possuem um alto grau de industrialização, estando na medida exata para o uso.

Melhoria da saúde e bem-estar dos usuários

A casa se ventila de forma natural e aproveita ao máximo a iluminação natural. Além disso, conta com pátios descobertos gerando possibilidades de lazer para os usuários, o que cria um ambiente saudável e proporciona o aumento de qualidade de vida aos ocupantes da residência. Uma cobertura ajardinada permite também que os moradores cultivem seus próprios alimentos para consumo próprio, ou até mesmo desfrutem como uma área de sol.

Diminuição do preço e da manutenção das casas.

A racionalização dos processos construtivos e dos componentes da edificação são premissas básicas no combate ao déficit habitacional brasileiro. A industrialização da construção promove a economia em virtude da produção em grande escala, além de reduzir o tempo de execução da obra e o desperdício de materiais.

Acessibilidade

O conceito de “Habitação para Todos” (nome que dá origem ao concurso) foi de fato levado à risca. Foram concebidas residências que permitem que os cadeirantes e portadores de necessidades especiais realizem todas suas funções da maneira mais simples possível.

Todos os cômodos da casa foram minuciosamente pensados para poder atender perfeitamente as normas de acessibilidade, dando assim mais conforto aqueles que mais precisam.

Os espaços entre móveis e dimensões de portas foram todos feitos de modo que um cadeirante possa se locomover da maneira mais fácil possível dentro de sua própria residência.